As primeiras civilizações viveram o seu momento de
descobertas, comportamento e realizações que deixaram um legado para todos os
povos, de todas as épocas. Podemos perceber a influência da civilização grega
nas atividades esportivas, como os jogos olímpicos, na literatura, em obras
como Ilíada e Odisséia, de Homero, na Filosofia, com os pensamentos e obras de
Sócrates e Platão, entre outros. Também podemos perceber a influência da civilização
romana no direito, na organização política, dando os primeiros passos para a
democracia, na organização militar, entre outras contribuições. Outros povos
como babilônicos, persas e chineses também deixaram uma herança. Quando
voltamos os olhos para o povo hebreu também podemos perceber uma grande herança
deixada para a humanidade.
O maior legado deixado pelos israelitas não foi em
descobertas, invenções ou artefatos, mas uma herança de valor espiritual, que
promoveu mudanças mais profundas no modo de vida da humanidade do que as
deixadas por qualquer outro povo, e representa uma contribuição mais duradoura
e imutável do que as das demais civilizações. Esta herança espiritual pode ser
observada, principalmente, em três aspectos: o relacionamento com a divindade,
o registro da revelação divina e a presença da divindade entre o povo.
O relacionamento com
a divindade
Após a queda do homem, no Éden, a humanidade buscou
preencher o vazio espiritual com a idealização de deuses, materializados em
objetos ou elementos da natureza, com quem pudessem ter um relacionamento, o
qual era marcado pela barganha e troca de favores: oferendas para satisfazer os
deuses eram permutadas por favores divinos. O relacionamento de Israel com
Deus, no entanto, foi baseado em outros princípios: amor e fidelidade.
Este relacionamento baseado no amor fiel entre o Senhor e
Israel, foi assim apresentado: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o
único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda
a tua alma e de toda a tua força." (Dt 6.4,5). Isto nos mostra que o povo
judeu foi a primeira civilização a ter uma fé monoteísta, permanente e
desprovida de interesses materiais. Israel não adorava a deuses limitados,
porque conhecia o Deus ilimitado; e não o trocava por outro deus exatamente
pelo mesmo motivo: porque, sendo Deus o Todo-poderoso, não havia outro maior ou
melhor. Eles não tinham o deus da chuva, a deusa da fertilidade ou o deus da
guerra, porque conheciam e adoravam àquele que fez todas as coisas.
A fidelidade dos israelitas a Deus pode ser verificada em
fatores como exclusividade e regularidade, provas de uma lealdade constante e
inabalável. O amor fiel exige exclusividade; porque amavam a Deus, os filhos de
Israel jamais adoravam a outro Deus, pois um servo não se pode ser fiel a dois
senhores, ou um marido ser fiel a duas esposas. Eles demonstravam constante
amor a Deus, pois para ser infiel não precisam muitos atos de infidelidade, mas
um só. Logo, o amor fiel exige regularidade; é preciso ser fiel sempre. Os
constantes holocaustos, a queima regular de incenso, as orações contínuas, a
realização das festas e rituais judaicos frequentes eram uma demonstração da
regularidade do seu amor por Deus.
O registro da
revelação divina
A escrita é o registro mais fiel e permanente do
conhecimento de um povo. A tradição oral pode se perder ou ter as informações
distorcidas, mas o que está escrito, desde que devidamente preservado, é
duradouro e fidedigno. E foi o amor dos judeus pelas Escrituras Sagradas e o seu
compromisso em copiá-las com extrema fidelidade que permitiu que chegassem até
nós com total confiança.
A Bíblia não é apenas um livro importante, mas a única fonte
confiável para conhecer a Deus e compreender seus propósitos. Ela não contém
apenas a palavra de Deus, mas é a própria fala de Deus aos homens; não relata
apenas a verdade, mas é a única verdade; não registra apenas um conjunto de
regras, mas é o único manual de regra e prática. Assim sendo, a leitura, estudo
e meditação da Bíblia não é somente importante, mas indispensável para todos os
que querem conhecer a Deus e saber a sua vontade. Ela é a revelação final de
Deus aos homens, não sendo necessário nenhum acréscimo ou complemento.
A Bíblia Sagrada é um presente da revelação de Deus para
todos os povos, de todos os tempos, e foi concedida aos judeus, os quais
mantiveram com afinco e dedicação o relato fiel de todas as informações. O
Antigo Testamento é o registro da história e do relacionamento de Deus com o
povo judeu, sendo chamado por muitos de Bíblia Hebraica; e o Novo Testamento
foi escrito por autores judeus, em sua imensa maioria, dentro de um cenário da
fé judaica.
Nenhum outro livro está mais presente na vida dos habitantes
do mundo que a Bíblia Sagrada, quer seja pelo amor dedicado de muitos ou pelo
ataque dos céticos. Sendo o livro traduzido para o maior número de idiomas, alcança
os lares do mundo mais que qualquer outro. Também nenhum outro exerceu maior
influência na cultura ocidental, na literatura, em obras de Camões, Dostoiévski,
Machado de Assis ou Dante Alighieri, entre outros; na arte, em obras de
Leonardo Da Vinci, Aleijadinho ou Michelangelo; na música com peças de Bach,
Handel ou Mozart. E nenhum outro exerceu maior influência na formação de leis e
da constituição de tantos países como a Bíblia.
A presença da
divindade entre o povo
O Deus eterno encarnou-se, vivendo entre os homens em uma
única existência terrena, com a finalidade de salvar toda a humanidade. E ele
escolheu vir ao mundo no ventre de uma mulher judia, nascendo em uma cidade de
Judá, “pequena entre milhares”, como dizia a profecia de Miquéias 5.2. Quando
Deus presentou a humanidade com o nascimento de seu filho, o fez através dos
descendentes de Abraão. Jesus viveu como um verdadeiro judeu, praticou a lei
judaica, identificando-se completamente com sua etnia, pois afirmou à mulher
samaritana: “nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus” (Jo
4.22).
Deus prometeu a Abraão que abençoaria todas as famílias da
terra através da sua descendência e o apóstolo Paulo afirma que Deus estava
falando da encarnação de Cristo “para que a bênção de Abraão chegasse aos
gentios por Jesus Cristo” (Gl 3.8-14). Nenhum outro povo pode afirmar que Deus
viveu entre eles e apresentar provas físicas deste evento histórico como os
judeus.
Através de Israel o mundo conheceu a Deus, recebendo a
revelação perfeita de sua natureza e de sua vontade, através da Bíblia,
aprendeu a ter um relacionamento íntimo com Deus, pela fé monoteísta e recebeu
o próprio Deus encarnado, para a salvação de todo aquele que crê. Nenhum outro
povo poderia ter dado ao mundo uma herança de tamanho valor espiritual quanto
os descendentes de Abraão, a quem Deus escolheu: Israel.
Márcio Klauber Maia é pastor, diretor e professor do
CETAD-RN, webmaster do blog Escola Dominical na Web (www.ebdweb.com.br) e autor
do livro O Caminho do Adorador (CPAD, 2007). É casado e pai de quatro filhas.
Publicado no jornal Mensageiro da Paz, CPAD, Agosto/2012.