sexta-feira, 14 de março de 2014

O Legado Espiritual de Israel


As primeiras civilizações viveram o seu momento de descobertas, comportamento e realizações que deixaram um legado para todos os povos, de todas as épocas. Podemos perceber a influência da civilização grega nas atividades esportivas, como os jogos olímpicos, na literatura, em obras como Ilíada e Odisséia, de Homero, na Filosofia, com os pensamentos e obras de Sócrates e Platão, entre outros. Também podemos perceber a influência da civilização romana no direito, na organização política, dando os primeiros passos para a democracia, na organização militar, entre outras contribuições. Outros povos como babilônicos, persas e chineses também deixaram uma herança. Quando voltamos os olhos para o povo hebreu também podemos perceber uma grande herança deixada para a humanidade.
O maior legado deixado pelos israelitas não foi em descobertas, invenções ou artefatos, mas uma herança de valor espiritual, que promoveu mudanças mais profundas no modo de vida da humanidade do que as deixadas por qualquer outro povo, e representa uma contribuição mais duradoura e imutável do que as das demais civilizações. Esta herança espiritual pode ser observada, principalmente, em três aspectos: o relacionamento com a divindade, o registro da revelação divina e a presença da divindade entre o povo.
O relacionamento com a divindade
Após a queda do homem, no Éden, a humanidade buscou preencher o vazio espiritual com a idealização de deuses, materializados em objetos ou elementos da natureza, com quem pudessem ter um relacionamento, o qual era marcado pela barganha e troca de favores: oferendas para satisfazer os deuses eram permutadas por favores divinos. O relacionamento de Israel com Deus, no entanto, foi baseado em outros princípios: amor e fidelidade.
Este relacionamento baseado no amor fiel entre o Senhor e Israel, foi assim apresentado: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." (Dt 6.4,5). Isto nos mostra que o povo judeu foi a primeira civilização a ter uma fé monoteísta, permanente e desprovida de interesses materiais. Israel não adorava a deuses limitados, porque conhecia o Deus ilimitado; e não o trocava por outro deus exatamente pelo mesmo motivo: porque, sendo Deus o Todo-poderoso, não havia outro maior ou melhor. Eles não tinham o deus da chuva, a deusa da fertilidade ou o deus da guerra, porque conheciam e adoravam àquele que fez todas as coisas.
A fidelidade dos israelitas a Deus pode ser verificada em fatores como exclusividade e regularidade, provas de uma lealdade constante e inabalável. O amor fiel exige exclusividade; porque amavam a Deus, os filhos de Israel jamais adoravam a outro Deus, pois um servo não se pode ser fiel a dois senhores, ou um marido ser fiel a duas esposas. Eles demonstravam constante amor a Deus, pois para ser infiel não precisam muitos atos de infidelidade, mas um só. Logo, o amor fiel exige regularidade; é preciso ser fiel sempre. Os constantes holocaustos, a queima regular de incenso, as orações contínuas, a realização das festas e rituais judaicos frequentes eram uma demonstração da regularidade do seu amor por Deus.
O registro da revelação divina
A escrita é o registro mais fiel e permanente do conhecimento de um povo. A tradição oral pode se perder ou ter as informações distorcidas, mas o que está escrito, desde que devidamente preservado, é duradouro e fidedigno. E foi o amor dos judeus pelas Escrituras Sagradas e o seu compromisso em copiá-las com extrema fidelidade que permitiu que chegassem até nós com total confiança.
A Bíblia não é apenas um livro importante, mas a única fonte confiável para conhecer a Deus e compreender seus propósitos. Ela não contém apenas a palavra de Deus, mas é a própria fala de Deus aos homens; não relata apenas a verdade, mas é a única verdade; não registra apenas um conjunto de regras, mas é o único manual de regra e prática. Assim sendo, a leitura, estudo e meditação da Bíblia não é somente importante, mas indispensável para todos os que querem conhecer a Deus e saber a sua vontade. Ela é a revelação final de Deus aos homens, não sendo necessário nenhum acréscimo ou complemento.
A Bíblia Sagrada é um presente da revelação de Deus para todos os povos, de todos os tempos, e foi concedida aos judeus, os quais mantiveram com afinco e dedicação o relato fiel de todas as informações. O Antigo Testamento é o registro da história e do relacionamento de Deus com o povo judeu, sendo chamado por muitos de Bíblia Hebraica; e o Novo Testamento foi escrito por autores judeus, em sua imensa maioria, dentro de um cenário da fé judaica.
Nenhum outro livro está mais presente na vida dos habitantes do mundo que a Bíblia Sagrada, quer seja pelo amor dedicado de muitos ou pelo ataque dos céticos. Sendo o livro traduzido para o maior número de idiomas, alcança os lares do mundo mais que qualquer outro. Também nenhum outro exerceu maior influência na cultura ocidental, na literatura, em obras de Camões, Dostoiévski, Machado de Assis ou Dante Alighieri, entre outros; na arte, em obras de Leonardo Da Vinci, Aleijadinho ou Michelangelo; na música com peças de Bach, Handel ou Mozart. E nenhum outro exerceu maior influência na formação de leis e da constituição de tantos países como a Bíblia.
A presença da divindade entre o povo
O Deus eterno encarnou-se, vivendo entre os homens em uma única existência terrena, com a finalidade de salvar toda a humanidade. E ele escolheu vir ao mundo no ventre de uma mulher judia, nascendo em uma cidade de Judá, “pequena entre milhares”, como dizia a profecia de Miquéias 5.2. Quando Deus presentou a humanidade com o nascimento de seu filho, o fez através dos descendentes de Abraão. Jesus viveu como um verdadeiro judeu, praticou a lei judaica, identificando-se completamente com sua etnia, pois afirmou à mulher samaritana: “nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4.22).
Deus prometeu a Abraão que abençoaria todas as famílias da terra através da sua descendência e o apóstolo Paulo afirma que Deus estava falando da encarnação de Cristo “para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo” (Gl 3.8-14). Nenhum outro povo pode afirmar que Deus viveu entre eles e apresentar provas físicas deste evento histórico como os judeus.
Através de Israel o mundo conheceu a Deus, recebendo a revelação perfeita de sua natureza e de sua vontade, através da Bíblia, aprendeu a ter um relacionamento íntimo com Deus, pela fé monoteísta e recebeu o próprio Deus encarnado, para a salvação de todo aquele que crê. Nenhum outro povo poderia ter dado ao mundo uma herança de tamanho valor espiritual quanto os descendentes de Abraão, a quem Deus escolheu: Israel.

Márcio Klauber Maia é pastor, diretor e professor do CETAD-RN, webmaster do blog Escola Dominical na Web (www.ebdweb.com.br) e autor do livro O Caminho do Adorador (CPAD, 2007). É casado e pai de quatro filhas.


Publicado no jornal Mensageiro da Paz, CPAD, Agosto/2012.

Nenhum comentário:

Postar um comentário